quarta-feira, 30 de novembro de 2011

AMAZÔNIA, O NOVO SERTÃO DO BRASIL
(Marcos Alagoas)
Já passei por tantos rios
bonitos nesse Brasil!...
Admirei-os, contemplei-os...
e nesse encontro com o meu olhar
percebi que, hoje, assoreados,
parecem um filete d`agua...
Então, meus olhos deságuam,
pois as nascentes secaram a minha sede.
No chão, meu firmamento,
corro contra o tempo, rezo... e para ele
faço um terço de contas,
com o desencontro sentimental
das minhas lágrimas.
Só assim poderei sentir a água
descendo dos meus olhos,
e com ela, poder molhar, com as minhas mãos,
cada nascente secada...
para ver de volta rios e cachoeiras
renascendo nas cabeceiras
e desaguando nas ribanceiras águas cristalinas.
A vida voltando nas corredeiras,
trazendo as belas sinfonias de pássaros.
Canções sem extinção
longe das baladeiras, espingardas, matadeiras,
motoserras, trator de esteira,
pois mal cobre a ponta do espeto
só prá vender em feiras.
Madeireiras deitam árvores, sacramentam o cerrado,
Aroeira, araribá, ipê amarelo,
angico jatobá...
cerca de arame liso ou farpado só prá cercar gado.
Já ouvi falar de uma floresta: Amazônia;
se algo ainda lhe resta, não deram-me dela
o tempo de conhecê-la.
Já corri por tantas terras despidas!...
agora, a insônia!...o teu nome era Amazônia,
o novo sertão do Brasil!
Ao olhar para trás, nenhuma semente
para em ti jogar... que pesadelo!...
o verde manto deitado no chão,
A tua morte idolatrada é realidade,
cabra da peste, virou agreste, cara de nordeste!
Eu já vi esse filme... fui feirante, fui retirante
e em meu alforje levei farinha, rapadura,
vida dura ao longe rincão,
cabaça nas costas sem ver um pé de plantação.
Gritei: “este será o novo sertão!...”
Chapéu na cabeça, sem endereço...
Procuro a linha do equador no meu coração,
a dor da aberração, o Sol queimando a minha pele,
Cadê as árvores?... Cadê a sombra?...
O verde desapareceu, a terra esturricou-se,
sigo adiante, sem destino... meu nome é Nordestino.
Vejo-a completamente devorada.
Adivinhe o nome dela!:
“Era uma vez Amazônia, a mais linda floresta...”
Quero beber água, quero matar minha sede.
Doze por cento de água doce sem um pingo na minha boca,
engulo seco, travando a garganta sem uma gota de lágrima
no “zói” prá molhar esse chão.
Eu o lamento... fui poeta do amor, mas nunca da dor;
já fui poeta da flor, mas nunca do horror;
fui poeta dos rios, dos leitos, dos pássaros,
canções... das margens e imagens, agora tudo é miragem...
Clamei por paz, amei a tristeza... cadê tú, Mâe Natureza?
Prá não sofrer a tanta destruição, abracei-me com a solidão,
ajoelhei-me no chão e rezei para este novo sertão...
Agora, ao longe, meus olhos não alcançam o seu horizonte
de cinco milhões de quilômetros quadrados
nesde farto planetário... coitada da humanidade!...
Mesmo jogando semente, pagando penitência pela inconsequência
desses nossos pecados, jamais serás a mesma
nesses campos devastados, em meio a essas feridas.
Amazônia, verde eras tu e nunca foste amada.
De todas as ciladas, eras o alvo preferido nas noites.
Nos açoites, em aflição, gemias.
As tuas veias-raízes tornaram-se uma míngua,
como a Lua minguante, ou cheia de perseguição.
Dos homens, a má ação foi a traição a fogo e tição,
efeito das suas mãos.
O mundo de tantas ambições condenou as nossas gerações...